Coleta de Íris no Brasil Gera Polêmica e Investigação da ANPD
- Diogenes Régis
- 23 de jan.
- 2 min de leitura
A startup Tools for Humanity, fundada por Sam Altman, criador da OpenAI, tem chamado atenção em São Paulo por oferecer cerca de R$ 750 para quem aceita escanear sua íris em um dos mais de 40 pontos de coleta disponíveis na cidade. No entanto, a prática tem levantado questionamentos legais e éticos, levando a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) a investigar a legalidade do projeto.

Como funciona o projeto
Os participantes escaneiam suas íris e recebem o valor em WLD, uma moeda virtual que pode ser convertida em dinheiro. O projeto, parte da iniciativa World ID, busca fornecer uma “prova de humanidade” baseada em dados biométricos para facilitar o acesso à economia digital. Desde sua chegada ao Brasil, em novembro de 2024, a startup já coletou informações de cerca de 200 mil brasileiros.
Pontos de investigação da ANPD
A ANPD reabriu um processo iniciado no final de 2024 para analisar o tratamento dos dados biométricos pela Tools for Humanity. A investigação abrange aspectos como:
Legalidade do tratamento de dados sensíveis, incluindo íris e outras informações biométricas.
Transparência nas operações e garantia dos direitos dos titulares de dados.
Segurança das informações coletadas, com foco em medidas de proteção contra violações.
Impactos na privacidade e riscos relacionados ao uso de dados de crianças e adolescentes.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) impõe normas rigorosas para o tratamento de dados pessoais sensíveis, exigindo bases legais claras e proteção reforçada.
Posicionamento da empresa
Em nota, a Tools for Humanity afirmou estar em conformidade com as regulamentações locais, incluindo a LGPD. A empresa destacou que utiliza tecnologia avançada para preservar a privacidade dos usuários e se comprometeu a cooperar com autoridades para esclarecer qualquer dúvida.
Damien Kieran, Chief Privacy Officer da Tools for Humanity, afirmou que o Brasil é estratégico para o projeto World ID e que a tecnologia visa oferecer uma credencial anônima para uso em transações digitais, sem coletar dados biométricos de forma identificável.
Depoimentos de participantes
Relatos de brasileiros que participaram do projeto mostram perspectivas diversas. Guilherme Barbosa, entusiasta de criptomoedas, elogiou a tecnologia, destacando o potencial da íris como alternativa a senhas. Já Telma Soares, moradora de Osasco, participou por curiosidade e pelo valor oferecido, mesmo sem compreender completamente o funcionamento da moeda virtual.
Os tokens recebidos podem ser convertidos em dinheiro diretamente pelo aplicativo, atraindo grande interesse do público.
Controvérsias internacionais
Na Europa, o projeto enfrentou restrições em países como Espanha e Alemanha. Em março de 2024, a agência espanhola determinou a suspensão da coleta de dados, alegando violação das normas da União Europeia. Em dezembro do mesmo ano, autoridades na Baviera ordenaram a exclusão de dados coletados pela empresa.
Reflexões sobre privacidade e inovação
Embora a proposta seja inovadora, especialistas alertam para os riscos associados ao uso de dados biométricos, especialmente em um cenário onde a privacidade digital é uma preocupação crescente. A ANPD deve avaliar se o projeto respeita os direitos dos titulares de dados no Brasil e se as práticas da empresa estão alinhadas às exigências legais.
A investigação em andamento reforça a importância de um equilíbrio entre avanços tecnológicos e proteção da privacidade dos indivíduos, sobretudo em iniciativas que envolvem dados sensíveis.
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